As práticas clientelistas
na política penalvense não é um fenômeno recente na história local, sendo
usadas como meio de ascensão ao poder. Conforme Barros (1985), nas eleições de
1955, o farmacêutico Cavour Rochandrade Maciel é eleito prefeito municipal
graças às suas “boas ações” junto à população pobre do município. Cavour
desfrutava de uma enorme popularidade e invejável prestígio em razão de seus
feitos como único farmacêutico da cidade, de que se valeu para realizar
sozinho, uma grande obra filantrópica em benefícios das famílias carentes.
Com uma população pobre,
em que boa parte das pessoas não dispunha de recursos para comprar um remédio
que lhe aliviasse a dor, Cavour Maciel fez da profissão um meio de obtenção de
poder, encontrando um campo bastante fértil na Penalva da década de 1950.
Segundo Mendes Neto
(2009) no início da década de 1960, várias firmas da capital como a OLEAMA
(Oleaginosas Maranhenses S\A), Bento Mendes e Francisco Aguiar & Cia, se
estabeleceram na cidade de Penalva, tendo o babaçu como matéria prima, essas
empresas contribuíram para alavancar a economia local e fazer do município de
Penalva o terceiro maior produtor de amêndoas, atrás de Rosário e Pindaré.
Com uma dada ascensão
econômica, as relações clientelistas exigiam uma transformação por parte dos
agentes políticos, o que não foi adotado pelos grupos dominantes da política
local. Isto pode ser observado em virtude da alternância dos grupos políticos em
espaços de tempos relativamente curtos.
Em 1951 Wilson Marques
chega ao posto de prefeito como liderança de grupo, elegendo no pleito
seguinte, 1955, seu aliado Cavour Maciel. Na eleição posterior quem chega ao
posto do executivo municipal, em 1961, é o adversário dos dois últimos, Tomás
de Aquino Mendes. Em 1966, o grupo político de Wilson Marques retorna ao poder,
desta vez, com José Luiz Marques, que havia sido vice na gestão anterior.
Vale salientar que
prefeito e vice-prefeito eram votados de modo independente, o que possibilitava
uma administração com gestor e vice pertencendo a grupos políticos adversários.
Nas eleições de 1969, há
uma nova configuração dos grupos políticos: José Luiz Marques rompe com o grupo
ao qual fazia parte e que era liderado por Wilson Marques e passa a liderar um
novo grupo (a Sebaria ou Sebo).
Wilson Marques, por sua
vez, passa a comandar o grupo denominado de Embroma ou Embromaria, aliando-se a
Tomás de Aquino Mendes, maior adversário até então, essa união possibilitou o retorno
de Wilson Marques, tendo como vice-prefeito o próprio Tomás de Aquino Mendes.
A partir de 1970, as
relações clientelistas finalmente ganhariam contornos que dariam ao mesmo grupo
político, sucessivas vitórias nas eleições municipais, isso graças ao modo de
relações aprimorado por aquele que, segundo Balby (2000), se tornaria a maior
liderança política a partir de então: José Duarte Gonçalves.
José Gonçalves chegou em
Penalva no final dos anos 50 como gerente da empresa Bento Mendes S\A, que dava
crédito aos comerciantes e recebia babaçu como forma de pagamento.
Assim, José Gonçalves gozava de boa influência junto aos setores da sociedade penalvense, do comerciante ao carroceiro.
“Quando chegavam as lanchas do interior, carregadas de
babaçu, ele chamava agente (os carroceiros) para conduzir as cargas de babaçu
até o galpão, lá ele tinha caminhão, mas mesmo assim ele chamava os carroceiros
que era pra poder ajuda agente [...] gostava de uma molecagem que era danado”
¹.
Esse carisma junto às
relações com os comerciantes lhe garantiu uma vaga na câmara de vereadores em
1970, tornando-se ainda o presidente da casa. Com o declínio político de Aquino
Mendes e Wilson Marques, José Gonçalves assume o comando da Embroma e concorre
ao cargo de prefeito já nas eleições de 1972, vencendo seu adversário José
Marques.
Uma vez no poder, José
Gonçalves ampliou seu modus operandis
assistencialista. Conforme Mendes Neto (2009), ele teria instituído novas
formas de relações com o eleitorado, em uma época em que se votava por favores,
José Gonçalves passou a dar literalmente, dinheiro e comida às pessoas,
acostumando o povo a pedir e adotando para si o título de pai dos pobres.
Com a casa sempre cheia
de pessoas que iam à busca de dinheiro e comida, José Gonçalves transmitia a
ideia de político querido na cidade, consolidando ainda mais sua força política
junto às pessoas mais carentes do município.
O assistencialismo de
José Gonçalves se diferenciava do das lideranças de outrora: enquanto Cavour
Maciel usava sua profissão assistindo a população carente como meio de obter
poder, reduzindo-a, enquanto prática assistencialista, depois de está no poder,
Gonçalves as usou como meio de galgar espaço político em Penalva e as aprimorou
na tentativa de permanecer nele.
É a partir de José
Gonçalves que as relações entre eleitor e prefeito se estreitam e duram antes e
depois das eleições, sendo adotadas por seus sucessores, sempre aprimorando-as
na tentativa de adequá-las ao eleitorado local.
por: Nilsomar Morais: Graduado em História
¹- entrevista com
Raimundo Melo. Carroceiro à época.