Revoltar é um dos mais
antigos atos humanos na reivindicação de uma benfeitoria social, cuja prática
externada, mobiliza conjunto de pessoas objetivando um ideal em comum. Todavia,
faz-se necessário diferenciar a revolta sentimental e puramente individual como
um ato de indignação, que pode ser entendida quando o individuo por ser
contrário àquela ideia que julga ser prejudicial a si e membros que sejam
adeptos da mesma linha de raciocínio, ideologia ou filosofia.
Há aquela outra revolta, de âmago
semelhante a já citada, que toma proporções maiores por afetar contundentemente
uma classe ou grupo maior ou ainda de patamar social mais elevado. É sobre esta
ultima forma de revoltar-se, “organizadamente” que iremos adentrar para
compreendermos os motivos explícitos que culminou naquela que foi a mais
importante revolta popular nas terras Gonçalves dias. E mais, os motivos
camuflados que os personagens que fazem ou entram na história ocultam na
tentativa de pincelar os fatos como julga mais conveniente, conservando sempre
a figura de bom moço e atravessar as gerações, imaculado.
O período em que o Brasil
foi governado por regências, inúmeras foram as revoltas que por aqui eclodiram,
incomodando a tranquilidade de quem conduzia as rédeas do jovem Império
tropical rico em metais e abundante em nativos. Cada qual trazia estampado o
ideal pelo qual lutavam, conduzidos por um “salvador” que poderia tirá-los das
garras da opressão governamental ou qualquer outra forma humilhante imposta a
determinado segmento social.
A revolução Farroupilha (1835-1845) nos
ares do Rio Grande do Sul foi apenas uma das inúmeras revoltas dentro do seio
do Império Brasileiro. Com sua proposta republicana e separatista que punha em
risco a integridade nacional, ela era o reflexo daqueles que almejavam um
Brasil livre de Portugal, bem como aderir à forma de governo que julgavam ser
mais popular, qual seja a Republica. Se por um lado isto interessava
comerciantes e fazendeiros que viam uma melhoria de vida com a nova forma de
governo pela qual lutavam, por outro, escravos viam surgir a esperança de
obterem finalmente a tão sonhada liberdade. Portanto, uma heterogeneidade
convergia em um ideal, objetivando interesses diversos que juntava em um mesmo
grupo, distintos integrantes.
Nas terras que alimentou um dia o sonho
francês de constituir uma França longe da Europa (França Equinocial), também
ocorreu várias revoltas que reuniu em torno de si grupos diferentes, que
possuíam objetivos diversificados, todavia, a obstinação e empenho de seus
integrantes lembravam superficialmente as imponentes revoluções do sul do
Brasil. O mais memorável desses conflitos foi o que levou o nome inspirado em
um de seus líderes, Francisco dos Anjos
Ferreira (o balaio).
A Balaiada foi um movimento tímido no
tocante à sua estrutura e organização, que juntou escravos, boiadeiros,
sertanejos e fazendeiros. Todos tinham uma razão particular para se engajar no
movimento e, todas as razões juntas, mostravam as dificuldades que o estado do
maranhão como um todo, vinha sofrendo. A abertura dos portos brasileiros para o
comércio inglês, preço que D. João VI, pagou
pela escolta britânica na vinda para o Brasil, afetou diretamente os produtores
de algodão nas terras maranhenses. Sem a exportação algodoeira, os produtores
ficavam com sua principal fonte de renda à mercê da sorte, visto que o algodão
vindo do exterior era mais barato e melhor.
Sufocados
de um lado pelos portugueses e de outro pelos ingleses, os proprietários
maranhenses, com forte tom nacionalista, apelaram para o socorro da Coroa sem,
contudo, serem ouvidos, considerando inclusive como mostra de descaso da Corte
o fato de o imposto cobrado na Alfândega maranhense (tributo por escravo vindo
da África) de 1812 a 1821 ser gasto com a iluminação e a polícia do Rio de
Janeiro. Isto por si, já gerava uma insatisfação, uma vez que o que se recolhia
nas terras maranhenses era gasto em outro lugar, distante da terra dos
ondulantes babaçuais.
Nesse contexto, de grandes dificuldades
econômicas para o Maranhão, agravadas pelo derrame de moedas falsas e pela
retração econômica. Apesar de representar o quinto orçamento do Império em
1834, a região não recebia do Governo Central recursos para atender às suas
necessidades.
A revolta estava armada, os
descontentamentos com a Corte era motivo contundente para reivindicar melhorias
de uma forma conflitante, uma vez que o governo português não fez caso do
agrave econômico dos produtores maranhenses. Os produtores queriam vender seus
produtos como o faziam antes do monopólio inglês, os vaqueiros e sertanejos
dependiam das fazendas de algodão para sustentar suas famílias. Forma-se um
efeito dominó, que ia prejudicando todo mundo em grau proporcionalmente
semelhante. Quanto aos escravos, estava aí uma oportunidade ímpar de obter a
alforria e ser livre.
Era este objetivo pelo qual o quilombo Lagoa Amarela, com mais de três mil escravos fugitivos,
davam apoio ao movimento. Diversidade quanto aos grupos que formavam a
Balaiada, porém nenhum revoltoso ali estava como que empenhado em uma causa
social em favor da maioria, em prol de uma coletividade que não configurasse em
benefício que convergiria para si.
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