O Sistema Servil na sociedade brasileira ganhava
cada vez mais críticos. Após a Independência, o sentimento pelo fim da
escravidão aumentara e sua consumação parecia algo bem mais próximo da
realidade. Embora a população escrava fosse maior do que a livre, ela não foi
determinante para por fim ao Sistema Servil. Todavia, não pode ser considerada
passiva ante os acontecimentos que colocavam em pauta o futuro de cada um.
Isto pode ser observado facilmente na Bahia, onde
houve o maior número de revoltas e agitações, que buscavam o fim da escravidão.
Um dos fatores que justifica a não participação negra ativamente, é o fato de a
população escrava não formar uma classe política homogênea, visto que,
propositalmente, misturavam-se negros de vários lugares da África a fim de
impedir uma rebelião, algo que era bastante temido pela população branca.
Esse temor não era apenas fantasia já que ocorrera
exatamente assim em São Domingos, em que a população escrava rebelou-se,
tornando-se a protagonista principal no processo de libertação. Com uma massa
cativa superior, havia um ambiente fértil no Brasil para suceder o mesmo.
A nação recém-independente não podia se macular com
tal sistema e isto era reconhecido inclusive por nomes influentes da política
local, como José Bonifácio, patrono da Independência. Para ele, o Brasil jamais
seria uma nação homogênea e respeitada internacionalmente se continuasse com a
mão de obra escrava como parte de sua estrutura.
Outro fator que corroborou para o enfraquecimento de
tal sistema foi tráfico africano. Embora usassem de artimanhas como não separar
pais e filhos, marido e mulher, as circunstâncias em que viviam os negros dificultavam
sua multiplicação e isto não impedirá os efeitos da abolição do tráfico,
ocorrida em 1850.
Enquanto a escravidão brasileira estava longe dos
olhos da Europa e fora de seus interesses, o tráfico africano dizia respeito a
inúmeros países, que discutiam sua legalidade e legitimidade. Como o tráfico e
a escravidão estavam indissociavelmente ligados, as medidas tomadas por países
europeus em relação ao tráfico africano, afetará diretamente o Brasil.
Para por fim ao comércio de negros, entre em cena
aquela que fora a maior fornecedora de negros as colônias americanas, a
Inglaterra. Obstinada em eliminar a importação de africanos cativos, a
Inglaterra sanciona inúmeras leis e assina outros tratados objetivando o fim da
escravidão para atender seus interesses.
O Império brasileiro precisava ser reconhecido
internacionalmente e o reconhecimento vindo justamente da Inglaterra
render-lhe-ia atributos que não poderiam ser descartados. Envolvida diretamente
no processo que levou Pedro I a se tornar imperador, a Rainha dos Mares cobrará
seu preço e isto se fará em 1827, quando será considerado pirataria o tráfico
negreiro em território brasileiro, sendo punido como tal.
Com os resultados nada animadores, a Inglaterra
obtém uma cláusula que lhe permite vistoriar navios em alto mar suspeitos de
tráfico negreiro, isto, contudo, permite aos traficantes buscar mecanismos para
driblar a fiscalização, como jogar ao mar toda a carga que lhe incriminaria. Na
sua caçada interminável, os ingleses agora não consideram apenas os negros
encontrados nos navios, mas elementos que mostram indícios de transporte de
cativos, como ferros que eram usados na amarração.
Cessada a
concessão de vistoriar em alto mar os navios suspeitos, a Inglaterra agora
vale-se de todo seu poder e,
arbitrariamente, passa a inspecionar todos os navios suspeitos mesmo sob
protesto do governo brasileiro e sem concessão diplomática para tal. Onde quer que
estivesse um navio traficante, lá ia a marinha inglesa interceptá-lo e colocar
seus comandantes sob julgamento do Almirantado.
Tal perseguição sem trégua alastrou-se durante anos
enfraquecendo definitivamente o sistema servil brasileiro bem como toda sua
estrutura econômica que estava intimamente associada à mão de obra escrava.
Isso mudará definitivamente o cenário econômico nacional que, entre crises e
recuperações, há de se industrializar timidamente ao longo dos anos.
*
Por Nilsomar Morais. Graduado em História.
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