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segunda-feira, 9 de março de 2015

O INÍCIO DO CLIENTELISMO POLÍTICO EM PENALVA

As práticas clientelistas na política penalvense não é um fenômeno recente na história local, sendo usadas como meio de ascensão ao poder. Conforme Barros (1985), nas eleições de 1955, o farmacêutico Cavour Rochandrade Maciel é eleito prefeito municipal graças às suas “boas ações” junto à população pobre do município. Cavour desfrutava de uma enorme popularidade e invejável prestígio em razão de seus feitos como único farmacêutico da cidade, de que se valeu para realizar sozinho, uma grande obra filantrópica em benefícios das famílias carentes.
Com uma população pobre, em que boa parte das pessoas não dispunha de recursos para comprar um remédio que lhe aliviasse a dor, Cavour Maciel fez da profissão um meio de obtenção de poder, encontrando um campo bastante fértil na Penalva da década de 1950.
Segundo Mendes Neto (2009) no início da década de 1960, várias firmas da capital como a OLEAMA (Oleaginosas Maranhenses S\A), Bento Mendes e Francisco Aguiar & Cia, se estabeleceram na cidade de Penalva, tendo o babaçu como matéria prima, essas empresas contribuíram para alavancar a economia local e fazer do município de Penalva o terceiro maior produtor de amêndoas, atrás de Rosário e Pindaré. 
Com uma dada ascensão econômica, as relações clientelistas exigiam uma transformação por parte dos agentes políticos, o que não foi adotado pelos grupos dominantes da política local. Isto pode ser observado em virtude da alternância dos grupos políticos em espaços de tempos relativamente curtos.
Em 1951 Wilson Marques chega ao posto de prefeito como liderança de grupo, elegendo no pleito seguinte, 1955, seu aliado Cavour Maciel. Na eleição posterior quem chega ao posto do executivo municipal, em 1961, é o adversário dos dois últimos, Tomás de Aquino Mendes. Em 1966, o grupo político de Wilson Marques retorna ao poder, desta vez, com José Luiz Marques, que havia sido vice na gestão anterior.
Vale salientar que prefeito e vice-prefeito eram votados de modo independente, o que possibilitava uma administração com gestor e vice pertencendo a grupos políticos adversários.
Nas eleições de 1969, há uma nova configuração dos grupos políticos: José Luiz Marques rompe com o grupo ao qual fazia parte e que era liderado por Wilson Marques e passa a liderar um novo grupo (a Sebaria ou Sebo).
Wilson Marques, por sua vez, passa a comandar o grupo denominado de Embroma ou Embromaria, aliando-se a Tomás de Aquino Mendes, maior adversário até então, essa união possibilitou o retorno de Wilson Marques, tendo como vice-prefeito o próprio Tomás de Aquino Mendes.
A partir de 1970, as relações clientelistas finalmente ganhariam contornos que dariam ao mesmo grupo político, sucessivas vitórias nas eleições municipais, isso graças ao modo de relações aprimorado por aquele que, segundo Balby (2000), se tornaria a maior liderança política a partir de então: José Duarte Gonçalves.
José Gonçalves chegou em Penalva no final dos anos 50 como gerente da empresa Bento Mendes S\A, que dava crédito aos comerciantes e recebia babaçu como forma de pagamento.
Assim, José Gonçalves gozava de boa influência junto aos setores da sociedade penalvense, do comerciante ao carroceiro.

“Quando chegavam as lanchas do interior, carregadas de babaçu, ele chamava agente (os carroceiros) para conduzir as cargas de babaçu até o galpão, lá ele tinha caminhão, mas mesmo assim ele chamava os carroceiros que era pra poder ajuda agente [...] gostava de uma molecagem que era danado” ¹.

Esse carisma junto às relações com os comerciantes lhe garantiu uma vaga na câmara de vereadores em 1970, tornando-se ainda o presidente da casa. Com o declínio político de Aquino Mendes e Wilson Marques, José Gonçalves assume o comando da Embroma e concorre ao cargo de prefeito já nas eleições de 1972, vencendo seu adversário José Marques.
Uma vez no poder, José Gonçalves ampliou seu modus operandis assistencialista. Conforme Mendes Neto (2009), ele teria instituído novas formas de relações com o eleitorado, em uma época em que se votava por favores, José Gonçalves passou a dar literalmente, dinheiro e comida às pessoas, acostumando o povo a pedir e adotando para si o título de pai dos pobres.
Com a casa sempre cheia de pessoas que iam à busca de dinheiro e comida, José Gonçalves transmitia a ideia de político querido na cidade, consolidando ainda mais sua força política junto às pessoas mais carentes do município.
O assistencialismo de José Gonçalves se diferenciava do das lideranças de outrora: enquanto Cavour Maciel usava sua profissão assistindo a população carente como meio de obter poder, reduzindo-a, enquanto prática assistencialista, depois de está no poder, Gonçalves as usou como meio de galgar espaço político em Penalva e as aprimorou na tentativa de permanecer nele.

É a partir de José Gonçalves que as relações entre eleitor e prefeito se estreitam e duram antes e depois das eleições, sendo adotadas por seus sucessores, sempre aprimorando-as na tentativa de adequá-las ao eleitorado local.

                                                                              por: Nilsomar Morais: Graduado em História
¹- entrevista com Raimundo Melo. Carroceiro à época.

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